quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Interacção humana

Creio que vejo a interacção humana como um processo mais complexo que muitos, apercebo-me de pequenos pormenores que outros ignoram... Somos criaturas egocêntricas, sedentas do “outro” e agimos, constantemente, numa tentativa cega de chegar ao outro e colocarmos a nossa liberdade acima da do outro, a nossa escolha acima da do outro.
Poucas são as vezes que vejo verdadeira interacção, mas vejo a toda a hora a tentativa de dominância, comportamento humano terrível e pouco ético (ainda que, curiosamente, moral)... Tentarei explicitar a minha visão objectiva deste tema da melhor forma possível.
Creio que há duas grandes etapas presentes na interacção humana. Chamo “influência” à primeira e “força” à segunda, e por esta ordem ocorrem.
A influência é como um “relato” e é expressa por linguagem física e verbal. Digo que é como um relato, visto não haver qualquer imposição ao outro: “Eu sou, eu digo, eu faço, eu dou, eu sinto”. É, para todos os efeitos, uma forma pouco intrusiva de nos darmos a conhecer ao outro e, desta forma, obtermos um certo nível de atenção em troca. (Existe uma espécie de força presente nesta influência, mas, se há outra forma de agir, não conheço ou compreendo, logo tento reduzir este evento ao seu mais básico e eticamente correcto.)
A força é uma imposição ao outro e é como uma “proposta”. Mas esta proposta não é correcta, revela-se em contacto desnecessário, em perguntas e decisões às quais não se tem direito! - O homem deve desejar apenas o que merece. Desta forma, a sua posição no Universo é consciente e absoluta. – Quem somos nós para forçar o outro? Através destas formas “simples” da lida humana, tentamos roubar ao outro a sua verdadeira liberdade e escolha. Se eu sou forçado a reconhecer uma escolha, essa escolha já não me pertence, não é minha, foi corrompida! A minha liberdade ter-me-á sido roubada e morre, dessa forma, sem me aperceber sequer, parte do meu ser. Esta é a etapa mais comum na interacção humana, não haja dúvida.
Seria de esperar que, numa situação de interacção normal, ambas as partes exercessem influência e, caso em situação de acordo, passassem à força como evolução natural da relação... Uma espécie de “eu tiro e tu tiras”, mas que, pelo acordo subentendido, torna-se realmente um “eu dou e tu dás”... Pergunto-me se verão a diferença.
A influência que deveria ser a base do contacto e interacção humana é tantas vezes ignorada que, arrisco-me a dizer, em muitos casos é completamente ignorada, não ocorre por mais que uns momentos. Quão verdadeiramente triste, estes seres sociais e morais, ignorantes da morte ética da sua existência.

Dar-vos-ei um exemplo simples que comigo ocorre e, embora não compreendam ou possam visualizar a situação, é a minha abordagem à interacção humana (recente, sim, pois existe nisto tudo um catalisador que poucos reconheceriam e, se reconhecessem, não compreenderiam e julgar-me-iam por algo que não entendem). Serei ambíguo e vago, mas compreenderão a essência do exemplo se se focarem nestes aspectos da interacção humana.

Eu existo. Pela minha mera existência, exerço influência e uma pequena medida de força, que faço por submeter ao meu minucioso controlo, para manter a certeza e pureza das minhas acções.
Eu vivo. A vida não passa por mim, ela corre de mim e eu sinto. Sinto tudo, sinto com uma força e profundidade enorme e, nesta altura, o meu contacto com a condição humana é íntimo e verdadeiro.
Mas este ser que agora têm a oportunidade de compreender, vagamente, pelas minhas palavras, não foi sempre assim. Não, não fui sempre assim, embora a essência estivesse sempre lá presente. Demorei algum tempo a lá chegar, mas fi-lo, tão certamente como tomariam esta vossa realidade como garantida.
Algo ocorreu que me permitisse esse auto-descobrimento e essa visão do “todo”, da ligação de todas as coisas. O que ocorreu foi um sentimento. E esse sentimento foi o amor. (Sim, imensas vezes falo sobre o amor, parecer-vos-ei, talvez, falso ou louco, mas não o sou. Eu entendo e vivo um amor incondicional. Um amor incondicional por tudo.)
Quis, talvez, o Destino, que eu me encontrasse com outro ser (não um mero ser vivo, mas um ser) e, pela sua mera presença, começou a dar-se uma reacção em cadeia, fora do meu controlo, que resultou no que agora sou. Como uma “traça guiada pela luz”, procurei aproximar-me... Mas, assim que o fiz, senti-me terrivelmente mal. Que sensação mais estranha, o que poderia estar a ocorrer? O que ocorria era um “rebentar” ético que me toldava agora as acções e com o qual tive grande dificuldade em lidar ao início. Digo ao início, pois logo me debrucei sobre o assunto e após muito pensar e, sem dúvida, sofrer, aceitei-o. Com essa aceitação nasceu um novo “eu”.
Este novo “eu”, começando a libertar-se do seu “ser social”, e com uma sintonia maior com o “ser ético”, partiu novamente ao encontro do ser que provocou tal situação. Esta aproximação foi diferente, foi quase que uma mera influência... E esta influência exercida foi-se expandindo até se tornar uma nova medida da vida. Por vezes, a influência tornou-se força, e não consigo expressar o profundo pesar, mágoa e arrependimento pelo conhecimento da ocorrência de tais “deslizes”. Esses deslizes ocorreram pela tentativa do corpo de se sobrepôr à mente, mas não abordarei esse tema.
Eu sinto, e sinto tanto, que é uma dor incomensurável tentar não sentir. Sabendo que não o poderia não fazer, fui obrigado a expressar-me plenamente. Deitei tudo cá para fora, por assim dizer, abri as portas da minha alma e deixei a verdade ser vista como verdade. Agora que é conhecida, espero e desejo, nada mais posso fazer.
Sei o que sou, sei o que sinto, sei o que desejo e mereço. Exerço influência, não exercerei força até tal autorização ser dada (se alguma vez o for), e se tal não ocorrer, assim permanecerá a minha acção, sempre afastada da força, ainda que tal seja como uma espécie de morte lenta e sentida como um rasgão do tecido da minha realidade. Mesmo com toda essa possibilidade de dor, aceito plenamente a situação, pois o amor sentido é maior. Infinitamente maior.

Espero que compreendam, pelo menos, o sentimento e sentir associado, o controlo necessário à eticidade da interacção humana. Por tal tento reger-me, por tal vivo e existo.

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