sábado, 11 de agosto de 2012

Tenho tido uma certa dificuldade em escrever ultimamente. Não é que não tenha ideias ou temas que deseje abordar, mas tenho estado mais ocupado a ler do que a escrever. A razão é razoavelmente simples: estou demasiado "cru" para me expressar convenientemente, pelo que tenho preferido filtrar aquilo que sinto e penso através do que leio. Dessa forma, consigo libertar alguma frustração e sentir o que desejo, sem me deixar dominar por completo, uma vez que o que sinto encontra-se aliado aos sentimentos e ideias de personagens fictícias.

Estaria a mentir se dissesse que não me sinto a entrar em pânico frequentemente e que a única coisa que me tem aguentado é o outlet de emoções quando leio, mas todos os livros têm um fim e infelizmente não são produzidos infinitamente. Mais do que isso, aquilo que começou meramente por apaziguar-me já não tem um efeito tão forte... A mente liberta-se mais facilmente do que estou a ler e sinto as coisas sem o filtro da empatia pelas personagens fictícias, e receio inclusivamente que, dentro de pouco tempo, em vez de apaziguar-me, as minhas leituras adicionarão apenas ao tormento, em vez de o manter em cheque o tempo suficiente para fazer aquilo que tenho que fazer e organizar a minha psique. Não há tempo, creio eu, nem posso fingir que há mais que uma solução para os problemas que actualmente me afligem, pelo que devo continuar a fazer o melhor que posso para impedir que o pânico me roube da oportunidade de atingir essa solução única.

De qualquer forma, farei o meu melhor para escrever algo jeitoso nos próximos dias, nas linhas do que geralmente escrevo.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Reach out and touch faith

In the quiet of the night, when sleep does not come and I think of all the things I've done - and all the things I should have done -, can you sense me as I sense you?

When my mind reaches out through space and time, are you really there? Am I? Am I on your mind as you are on mine?

My faith in you is unrelenting, unyielding, and I know it will be so for as long as I live. Have you kept your faith in me as I have kept mine in you?

Although you are the sweetest dream, you are also my whole world, my reality. So am I but a dream to be broken and unmade? Have I not lived and loved and suffered like the awakened?

I used to think there was no obstacle that could not be surpassed, ignorant of the obstacles of my mind. Have I been able to create an obstacle to life? I pray with all my heart it isn't so. My God, my goddess, tell me it isn't so.

sábado, 28 de julho de 2012

The lying strength

Pull yourself from everything, let life pass by you without sensation or feeling, evading every experience that goes beyond mere living.
Push everything away, all the pain and the love, all the joy and the hate.
Become divided within yourself, someone, or better yet, something unable to contain all that any human being should and then tell yourself: "I am myself, I am free, I am strong".

You are not.
Not like that, not until you accept it all in your life.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Desequilíbrio

De um modo geral e simplista, aquilo que exteriorizamos é produto do que se esconde no nosso interior. Podemos não estar conscientes desse facto, mas coisas como o medo, o ódio, a violência existem para colmatar uma insuficiência interna. Esse ódio, medo e violência são manifestações do que de algum modo desejamos sentir, precisamos de sentir, para nos sentirmos mais completos... Exteriorizamos, porque não encontramos outra forma de veicular os profundos sentimentos negativos que podemos sentir por nós mesmos. Quando não os exteriorizamos, tornamo-nos deprimidos ou masoquistas, porque a necessidade de satisfação dessas "estranhas" necessidades não desaparece meramente por ser ignorada, sendo que o sadismo parece ser a estranha solução que encontramos para satisfazer essas necessidades sem nos prejudicarmos (claro que haverá outras consequências, que não partirão da nossa acção, mas sim da reacção dos outros).

Mas e quanto a sentimentos positivos? Amor, caridade e afins... Será que nos regemos por um princípio semelhante? Será que tentamos "acrescentar" à realidade aquilo que sentimos em falta, inclusivamente em nós mesmos? Não me sinto confortável com a ideia de tentar responder a tais questões, pois parece-me intrinsecamente errado que algo "bom" possa nascer da ausência de algo "bom", embora se se aplicar o mesmo princípio que anteriormente evoquei, então todas as coisas boas teriam os dias contados, uma vez que assim que fosse alcançada a sua completa satisfação ou completa insatisfação, deixariam efectivamente de existir (embora não pareça tão negativo quando transportamos essa possibilidade para as coisas "más").

De uma forma ou de outra, parece tudo nascer de um profundo egoísmo e egocentrismo, assim como uma tendência natural para ou anular completamente ou completar todas as coisas, sejam elas boas ou más, de onde surge um estranho equilíbrio. E isso é verdadeiramente triste, porque quase que impossibilita a possibilidade de sermos verdadeiramente equilibrados individualmente e, quando em conjunto com outros indivíduos, "trabalhemos" activamente para desequilibrar as coisas.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Sombras

A passion all consuming, denial of breath
Such great love would be wasted in death
For should I buy my love with hot blood
From your eyes would be birthed a flood

Um dia tudo isto não será mais que a sombra da sombra de um homem, mas especulo o que surgirá. Far-se-á a sombra e depois o homem? Quiçá ambos desfeitos? Ou permanecerá um homem sem sombra? Todos os destinos são negros, quando negro é o Destino de um homem.

sábado, 16 de junho de 2012

Redenção

Choramos mais por aqueles que amamos
Aqueles a quem o coração damos
E que independentemente de sexo, raça ou idade
Trazem-nos vida, amor e felicidade

Todos merecemos a possibilidade de nos redimir. Quão mais vil for o acto, maior a redenção a obter, mas ainda assim redenção é e pode ser obtida com esforço! E não nos devemos esquecer da nossa capacidade de perdoar, quando tal é merecido, pois embora nos possa ser difícil perdoar os outros, também aos outros pode custar perdoar-nos, logo a sensatez e coragem estará muitas vezes no primeiro passo dado no sentido de perdoar o outro, para que ele veja que também nos pode perdoar e assim se possa construir algo maior e mais belo.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

For us

Why must we all die young?
So many tears shed
Lives lived in such dread
And our songs left unsung

Must there be only loss?
In a world oh so great
Where we find mostly hate
Will our souls still cross?

If only all could accept love
And could be redeemed
Perfection to be gleamed
And we'd soar up above!

And I scream at High Heavens for only a chance, an opportunity, a possibility, a window left open, a door left unclosed! There must be more than pain, more than sorrow or bane, there must be a future for us... For me and you and everyone else, a future for happiness and meaning, must it not? I pray for such, while working on the rest, for life, for the future... For us.

sábado, 9 de junho de 2012

Acredito

Acredito num Mundo bom e justo
Acredito que tudo existe e acontece com um propósito
Acredito que há coisas misteriosas, mas todas elas estão à espera de ser conhecidas

Acredito na felicidade e no amor
Acredito que existem as linhas de um destino maior
Acredito que, no entanto, fazemos a nossa própria sorte e temos que lutar pelo que é bom

Acima de tudo, acredito em nós
E acredito que somos extraordinariamente fortes
E também acredito que, aconteça o que acontecer, seremos unos nesta vida ou na próxima

O velho

Ia um velho a caminhar pela rua
Olhar vazio, aura de tristeza
As costas curvadas por um fardo que apenas ele via e sentia
De andar arrastado e coxo
Figura triste e cansada
Como se não lhe sobrasse nada

"Diz-me, homem velho
Porquê esse ar de sofrimento?
Vivemos num Mundo belo
Quão terrível pode ser o teu tormento?"

O velho olhou para mim
Para lá de mim, através de mim
E disse-me da sua fortuna, do seu destino, da sua sina
Falou de oportunidades perdidas
Trabalhos inacabados, vida desperdiçada
Como se não lhe sobrasse nada

"Homem velho, não lutaste por essas coisas
Como pode tal ser?
Louco eras ou foste talvez
Foi um sonho que se desfez?"

E o velho voltou a falar-me
E a sua voz era a da morte
Da perda de todas as coisas, de quem não faz a sua sorte
Como se não me encontrasse lá
A mim se dirigiu então
Tocou-me no rosto, segurou-me a mão

"Jovem, não me vês pelo que sou
Não sou um homem
Vivo o que nenhum Deus me deu
Um futuro que será teu."

Fugi aos tropeções
Caí e esfolei-me
E olhei para trás para ver que o velho já não era, nunca foi
Mas eu poderia um dia vê-lo, sê-lo
E frente a um espelho me quedei
"Esse velho não serei."

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O único testamento

Há certos tipos de posições e testemunhos que não são levados a sério até se encontrarem de tal forma expostos que o Mundo mais não pode fazer que acreditar neles.

Aquilo que expresso é tão verdade para mim agora como era há muitos anos atrás, quando ainda era jovem e tolo o suficiente para pouco compreender da vida, tendo apenas os mais básicos pilares que me suportassem: se há algo nesta vida pelo qual vale a pena viver, lutar e morrer, é o amor. De todas as experiências pelas quais se pode passar ao longo da vida, nenhuma me é mais valiosa que o amor, e não seria capaz de aceitar uma "vida" sem poder ter a minha alma gémea a meu lado.

A maioria das pessoas pode enganar-se com as suas posições indefinidas de não haver branco ou preto, tudo ser cinzento, mas eu recuso-me a uma posição tão cobarde. É falsa tolerância e falsa sapiência parar com a busca do conhecimento e da verdade, mas acabei por divagar um pouco... O que quero dizer é simplesmente que o amor ou é puro ou não é de todo, e morrerei antes de abdicar dele.

Se muitas vezes antes o disse, desta vez escrevo-o para que não sobrem dúvidas de tal. Viver incompleto não é viver, e nada deixarei para trás que considere de valor se não houver algo de valor para perder, sendo que apenas o amor coloco nesse patamar. Abdicarei de uma vida vazia como estou sempre disposto a abdicar de tudo aquilo que, não sendo prejudicial, não tem também valor significativo para se acrescentar à vida.

Quando morrer, muito poderá ser dito de como errei nesta vida, das minhas falhas e do que deixei por fazer, mas no que neste texto escrevi será sempre vista a verdade do princípio maior pelo qual decidi desde jovem reger a minha vida.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Condenação/Absolvição

Palavras e actos de amor
Alma que sente apenas dor
Nada alcançou, além do fundo
Deseja somente um ser no Mundo

Amor e felicidade perdidos
Memórias de tempos idos
Lágrimas que o coração verte
Jazendo sob o peito, inerte

Confrontado com o frio
Agindo lesto e com brio
Um acto puro, alheio a sorte
Resultará em vida ou morte?

terça-feira, 5 de junho de 2012

Yours in this life and the next

Nightmare awakes in the middle of the night
And I can't do more than cry
I was too weak, verily unable to fight
I ask why, why, oh why?!

Emptiness engulfs me, without my wife
And I feel as lacking breath
Seeking forgiveness, to you I serve my life
Or death, or death, or death

Yours in this life and the next

domingo, 3 de junho de 2012

Não há vida, não há alma, não há riso, não há nada

Roubado o meu coração, destruída a minha alma
Haverá resolução? Não posso perder a calma
Não basta pedir perdão
Tom suave, apologético
Não abdico da tua mão
Todo o falar é sintético
Céptico
Pirético
Eléctrico
Poético
Ascético
Teorético
Profético
Frenético
Tudo dito por puro amor
Mas não mais que palavras
Nelas só se encontra dor
Há que à acção dar asas
Sem o meu amor a meu lado, a mente desgovernada
Não há vida, não há alma, não há riso, não há nada

sábado, 26 de maio de 2012

In(ter)dependência

Vivemos obcecados com a independência. Desde jovens, tentam incutir-nos essa necessidade de alcançar a nossa independência a todos os níveis, mostrando-nos como o Mundo é difícil e cruel quando não lutamos pelo nosso lugar nele. De facto, o Mundo é um lugar difícil e cruel, mas não por não conseguirmos alcançar a nossa independência, é-o porque estamos obcecados pela ideia de atingir um estado impossível. A independência é um estado impossível, pois nenhum indivíduo consegue sobreviver simplesmente pelos seus próprios meios. O estado de "auto-suficiência" não é aplicável a qualquer entidade, pois estamos sempre dependentes ou de outras entidades ou, simplesmente, do nosso meio envolvente.

Este fascínio ou obsessão pela independência, como se não fosse à partida uma ideia relativamente ridícula, é exacerbado pelas ideologias político-económicas capitalistas, com as suas tendências altamente competitivas e desreguladas, que fazem crer que a procura pelo nosso bem-estar ou felicidade apenas a nós nos afecta, quando tem necessariamente que afectar tudo à nossa volta. Para uns terem mais, outros terão que ter menos, e o equilíbrio elude-nos. Esta tendência (talvez) pouco natural para a competição é geralmente defendida pelas "evidências" do desenvolvimento e progresso, embora nunca tenha ouvido falar de um indivíduo que, singularmente, tenha feito seja o que for pelo Mundo pelos seus próprios meios. Isto pode ser visto de uma forma bastante simples: a independência económica, por exemplo, é impossível, pois embora uma pessoa possa ganhar o suficiente para se sustentar, é dependente dos ganhos que recebe do patronato e este dos frutos do seu trabalho (mesmo um indivíduo que trabalha por conta própria é dependente de fornecedores de todas as espécies, da mesma forma que estes dependem das suas necessidades).

O maior progresso e desenvolvimento que ocorre do Mundo não nasce da competição (embora possa aparentemente nascer de um espírito competitivo), mas de um contexto cooperativo, mesmo que as várias partes envolvidas ignorem as suas relações no processo. Deste modo, verifica-se que embora instintivamente possamos pensar que estamos pré-formatados para a competição (um egoísmo e egocentrismo primário), a verdade é que nada alcançamos sem cooperarmos de forma consciente ou inconsciente com outras entidades.

A independência é impossível, pois logo à partida todo o aspecto competitivo que suporta esse estado é impossível de sustentar. Ser independente é algo semelhante a competir com o Universo para alcançar um pequeno lugar só nosso em que somos o equivalente a Deus, e há alguma entidade (para além de Deus, certamente, haha) que tenha a força (física, emocional, espiritual, económica, política, seja o que for) para lutar contra o Universo? Obviamente, não. Vivemos num estado de interdependência que é praticamente imutável, sendo que o máximo que podemos alterar é a "amplitude" do nosso envolvimento. Quanto mais um indivíduo investe à sua volta, maior o desenvolvimento à sua volta, que por sua vez poderá investir mais nele. Se tentarmos investir puramente em nós mesmos, cedo descobrimos que não temos as forças necessárias para sustentar a multitude de aspectos das nossas vidas a que não conseguimos atender, porque estamos focados noutros aspectos.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Reencontrar-te-ei

Já tive tudo
Não o sabia, na altura... Ou talvez soubesse
Demasiada sorte para acreditar, é assim tão difícil de acreditar?
Tudo de bom, tudo de mau, mas tive tudo
Agora, perto do vazio, apercebo-me do que tive
Do que perdi
Do que talvez tenha perdido?
Não, do que perdi e devo reencontrar
Reencontrar-te-ei

Talvez louco seja por tudo desejar
Mas depois de tudo ter, por menos não me contento
E quem o faria?
É vero, ninguém o faria!
Como pôr em palavras
Tudo o que foi posto em acção?
Hmm, suponho que isso baste
Passei de palavras a acção
Reencontrar-te-ei

terça-feira, 22 de maio de 2012

É preciso ter fé

Da maioria dos sistemas criados pelo Homem (político, económico, social, etc.) diz-se que funcionam à base de confiança. No entanto, isto é uma falácia, uma vez que a confiança pressupõe motivos para tal existir, provas... De facto, deveria dizer-se que estes sistemas funcionam à base de confiança cega ou fé, pois de outra forma nenhuma acção tomaria alguma vez curso, pois estaríamos sempre na dúvida do que o "outro" faria, de modo a agirmos posteriormete de forma concordante (claro que é possível contra-argumentar que existem expectativas, mas estas só podem existir após o primeiro contacto, pois do desconhecido nada se pode conhecer antes).

É preciso ter fé. Essa confiança cega que guia muitos na via espirituo-religiosa é mais fulcral e frequente nas nossas vidas do que estamos muitas vezes dispostos a aceitar, pois quase tudo à nossa volta são meras crenças para as quais fabricamos provas, na esperança de sermos mais conscientes e racionais do que provavelmente alguma vez seremos.

Nunca conheci um indivíduo sem fé em alguma coisa. Não creio que tal seja sequer possível, pois a fé é um dos instinctos mais relevantes que temos. É uma ideia plantada no fundo da nossa mente que nos permite relacionar com o Mundo, que nos assegura a existência do Caos e nos identifica, assim como a quaisquer outras entidades, como forças capazes de transformar esse Caos em Ordem.

A fé permite-nos viver para lá do mero materialismo dicotómico vida/morte, na medida em que nos faz acreditar no desconhecido (tudo aquilo que de alguma forma acabará por influenciar as nossas vidas) que nos alerta para a existência de coisas como a qualidade de vida e o "outro", por exemplo, ainda antes de termos tido qualquer contacto com esses conceitos.

domingo, 20 de maio de 2012

Book update

Devido a uma reestruturação da minha vida (e do meu tempo, obviamente), estou novamente a dedicar-me ao meu livro. Espero ser capaz de o ir avançando razoavelmente ao longo dos próximos meses.

That's about it for now.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Teu...

Tive um sonho
Um sonho teu
Bem, sonho meu
Mas nele entraste, logo é teu

Tive um sonho
Um sonho belo
Embora bela sejas tu
Logo belo o sonho foi

Tive um sonho
Que não era um sonho
Mas nele entraste
Teu, o belo sonho que vivi todos os dias

Teu...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O senão da hierarquização moral

Vivemos num Mundo materialista. Não é tanto uma crítica quanto um desabafo, vivemos num Mundo materialista. Temos uma tendência para organizar, quantificar e relativizar tudo, pois de outro forma somos incapazes de lidar com a realidade, mas até que ponto não serão essas ideias e comportamentos que nos impedem de melhor nos adaptarmos a essa realidade?

Na Ética, como em muitas outras disciplinas do conhecimento, existe uma ordem das coisas, uma hierarquia. Essa ordem existe como uma "muleta", para todos os efeitos, uma vez que sem hierarquização moral, a maioria das respostas a estímulos poderiam ser incorrectas, despropositadas, desproporcionais, etc., mas não consigo deixar de pensar que essa mesma hierarquização permite que certos comportamentos continuem a existir, em vez de serem extintos. É uma realidade algo difícil de aceitar, mas a verdade é que embora a sociedade tenda a criar todo um sistema jurídico baseado, em certa medida, num código moral, ainda assim em muitas ocasiões o castigo por uma acção não é concordante com a gravidade da mesma, pelo que não se consegue erradicar um comportamento indesejável. Mas isto é mais ligado ao aspecto de legalidade, enquanto que eu considero mais relevante o aspecto de moralidade...

Quando face a um dilema moral, a hierarquização moral leva-nos a "decidir" que acções são melhores/piores que outras (são considerados aspectos como o contexto, intervenientes, historial, atenuantes, etc.), no entanto isto pode ser "mal" usado para relativizar coisas que o não deviam ser. Basta pensarmos em todas as situações de "os fins justificam os meios", para vermos como uma má acção pode ser atenuada ou mesmo justificada pelo objectivo final da mesma. Roubar para salvar alguém, matar para viver, enganar para não magoar, etc., todas estas acções podem ser vistas como justificáveis, na maioria das sociedades, mas poderá ser negado que todas essas acções são incorrectas? Se formos capazes de ignorar o contexto, compreedemos que são acções claramente erradas, mas ao justificar estas acções consoante o contexto, estamos a fazer com que estas nunca deixem de ocorrer, uma vez que as aceitamos com determinadas condições.

Quer queiramos quer não, a mesma hierarquização moral que nos possibilita comparar acções, é também a que permite a existência de certas acções que deveriam ser progressivamente erradicadas das nossas sociedades. Este facto é inegável, pois quando a punição por uma má acção não tem sequer um efeito dissuasor, então essa punição é inútil, logo o comportamento não é eliminado. Obviamente, isto significa que para eliminar certos comportamentos, teríamos meramente que aumentar o nível da punição... Mas há um grande senão: como todas as acções têm o seu lugar na hierarquização moral, se se aumentar a punição de uma acção, tendo o seu "mal" permanecido inalterado comparativamente às outras acções, teria que se aumentar a punição para todas as acções. Isto levaria a um efeito "bola de neve" que levaria a que todas as acções erradas sofressem punições elevadíssimas, a dada altura desproporcionais.

Mas, sendo perfeitamente honestos, haverá sequer hipótese de eliminar comportamentos incorrectos sem uma punição de tal forma drástica que impeça futuras manifestações? É este o grave problema da hierarquização moral... A Ética que deveria esforçar-se por eliminar relativizações na busca da verdade, acaba por introduzi-las com este sistema, e somos incapazes de fazer algo quanto a isso, pois todas as outras possíveis soluções são vistas como desumanas. E talvez até o sejam, mas acabo por simpatizar com elas, porque após ver todas as coisas de que o Homem é capaz, creio que a tentativa de erradicar tudo o que é indesejável não é algo tão desumano quanto parece, sendo uma mera tentativa de atingir perfeição.

A minha sugestão, com todos os seus prós e contras, seria o da abolição de qualquer espécie de hierarquização moral. Uma punição para qualquer má acção. Um sistema brutal, sem compaixão, sem contexto, sem atenuantes. Apenas um caminho, um objectivo: eliminar a "raiz do mal" no Homem. Cuidado que essa punição não tem que ser morte nem nada que se pareça, mas algo que permita construir-se sobre aquilo que foi destruído por qualquer acção, com a diferença relativamente ao sistema actual em que a punição seria sempre a mesma e colocada a um patamar tão alto que acabaria por eliminar quaisquer vontades de voltar a agir incorrectamente (terapia de choque, de certa forma).

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Um tributo

Um tributo às lágrimas que ficaram por derramar
Palavras que ficaram por dizer
E porque não?
Um tributo às acções que não foram tomadas
Os arrependimentos de uma vida inteira
Um tributo a toda a não-vida que, de alguma forma
Não tanto de alguma, como de qualquer forma
Nos marca mais que toda a vida

Verdadeiramente, um tributo à mágoa
Pois quando tudo o resto falha
A motivação nasce da vontade de fazer mais, dizer mais
Ser mais

E o pior dos infernos nasce quando, ao morrermos, a pessoa que fomos
Encontra a pessoa que podíamos ter sido
E quem podemos ainda ser merece, sem qualquer dúvida
Um tributo

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Estou aqui

Estou aqui
Já houve momentos em que não estive
Mesmo enquanto estava

Estou aqui
Também já estive noutros locais
Mas nunca deixei de aqui estar

Estou aqui
E estarei sempre, venha o que vier
Não apenas porque devo estar
Quero estar

Estou aqui

terça-feira, 1 de maio de 2012

A depressão e tu (eu)

O início deste post, escapa um pouco ao título, mas está relacionado com este. Começarei por abordar a natureza dos estímulos e a nossa resposta a estes e depois então tratarei de ligar este sub-tema à sua relação com a psicopatologia da depressão.

Ao contrário daquilo que nos é ensinado desde jovens, a maioria dos estímulos exteriores não têm valência, ou seja, não são positivos nem negativos, uma vez que são extraordinariamente influenciados por todo o contexto associado a estes estímulos. Tendo isto em consideração, então o próximo passo é lógico: as respostas aos estímulos são dotadas de valência. Poderá parecer-vos que isto é algo irrelevante, mas longe disto, pois é nestes cânones que se esconde o segredo da subjectividade. A objectividade existe, encontra-se a toda a nossa volta, mas as nossas mentes pequenas e fechadas nestes corpos têm pouca capacidade para interpretá-los de uma forma que não seja subjectiva, daí que exactamente o mesmo estímulo aplicado a diferentes indivíduos obtenha respostas completamente diferentes (poderemos argumentar que a amplitude destas respostas obedecerá a parâmetros razoavelmente simples de descortinar, mas ainda assim existe um nível de subjectividade a todas as respostas a um estímulo que dificilmente alguma vez será totalmente compreendido, dada a complexidade de todas as variáveis que contribuem para a obtenção das respostas).

Embora me tenha dado ao trabalho de clarificar este assunto, por uma questão de facilidade (preguiça, quiçá), para o intuito de relacionar este sub-tema com a depressão, irei referir-me a estímulos positivos e negativos (não se esqueçam que o que conta é a resposta). O nosso dia-a-dia "obriga-nos" a interagir com o meio-ambiente e a nossa própria mente, de tal forma que nos encontramos constantemente bombardeados por estímulos positivos e negativos. A frequência e força de cada um destes estímulos ditará a forma como a nossa mente alcança aquelas pequenas conclusões como "este dia correu bem", "aquela experiência correu mal", etc., mas como estes estímulos têm um efeito a médio e longo prazo, não apenas a curto prazo, devemos considerar que o impacto de qualquer estímulo influenciará o resto das nossas vidas a partir do momento em que foi percebido (isto é claramente compreendido através das nossas memórias, que nos relembram de prazer, dor e muitas outras sensações, mesmo volvidos anos após o estímulo inicial).

Guardei no entanto uma pequena surpresa, que poderão aceitar ou não, mas não deixa de ser verdade: não é apenas a interiorização de demasiados estímulos negativos que tem um efeito avassalador, mas também a interiorização de demasiados estímulos positivos. Isto ocorre por uma razão muito simples e que antes referi, que é o aspecto pequeno, finito, das nossas mentes, que não consegue lidar com excesso de "informação", independentemente da sua forma ou valência. Geralmente, lidamos melhor com uma mistura de estímulos positivos e negativos, que apenas de um destes tipos. Como é óbvio, há uma diferença entre a valência dos estímulos (do excesso de um tipo de estímulo, para a ideia que pretendo demonstrar) que é a resposta dada a cada um deles. Um estímulo positivo obterá geralmente uma resposta de prazer (felicidade, chamem-lhe o que desejarem), enquanto que um estímulo negativo obterá geralmente uma resposta de desprazer ou dor. Expresso então a diferença notável entre ambos: enquanto que a interiorização de demasiados estímulos positivos, mesmo sendo avassaladora, nunca influenciará o indivíduo no sentido de desejar a extinção destes estímulos (uma vez que obtém prazer destes), mas apenas influenciará no sentido de obter um certo nível de mitigação, uma redução para parâmetros suportáveis, o mesmo não se passa com a interiorização de demasiados estímulos negativos. A interiorização de demasiados estímulos negativos pode levar o indivíduo a crer que não vale a pena sentir quaisquer estímulos, uma vez que não retira prazer destes. Deste modo, a mitigação ou redução poderá ser entendida como insuficiente para regularizar a resposta aos estímulos (uma vez que estes esgotaram a resiliência do indivíduo), levando-o a ansiar pela extinção de todo e qualquer estímulo. Posto de uma forma demasiado simples, a "felicidade" (resposta a estímulos positivos) por si só pode flutuar entre diversos níveis sem ser percebida como meramente prejudicial, enquanto que a "tristeza" (resposta a estímulos negativos) tenderá naturalmente para a indiferença, a longo prazo. O mesmo é frequente noutras dicotomias de valências opostas - os valores positivos transformam-se, os valores negativos extinguem-se.

Devemos ter ainda em conta que a extinção de um estímulo negativo não acarreta o aparecimento de um estímulo positivo (e vice-versa), pelo que uma abordagem de mera extinção de estímulos negativos num indivíduo deprimido poderá apenas direccioná-lo para a indiferença, da qual surge a estagnação e a morte. Creio ser esta a principal razão pela qual é difícil tratar uma depressão: não nos devemos focar apenas na extinção de estímulos negativos, se não temos a capacidade para "injectá-lo" com estímulos positivos.

Se se sentirem em baixo, procurem ajuda, mas tenham sempre em conta que as vossas mentes encontram-se mais preparadas para lidar com os vossos problemas do que qualquer mente exterior a vós. Procurem ajuda, mas guiem-se no sentido de obterem esses tais estímulos positivos que são cruciais para alcançar-se o equilíbrio a que chamamos saúde.