quarta-feira, 30 de março de 2011

É teu dever e direito dar

Fechado, diminuto
Inferior a um minuto
Um abismo em si mesmo
De mente, vazio
De alma, ínfimo, pequeno

Quando tentaste, pela última vez, ser? Não falo de seres, falo de tentares ser... Algo... Diz-me, há quanto tempo? Dizes ser um indivíduo? Onde é que se encontra a tua expressão individual?

Como esperas fazer parte do todo, se nem te permites ser uma parte única do mesmo?

Buraco negro
Um vácuo expansivo
Faceta de um consumismo (vazio)
Despropositado
Sem objectivo, sem significado

Proprietário, utilitário, atreves-te a declarar teu o que ao Universo pertence? É teu dever e direito dar.

Demasiadas falhas


Às vezes, apercebo-me quão tolo sou. Já expressei isto de imensas formas diferentes, mas vou lembrando-me sempre de umas novas para definir a minha própria ignorância e as dos outros. Eu tenho falhas gravíssimas que irão invariavelmente trazer-me a loucura ou a morte, talvez ambas.

Preocupo-me com as pessoas. Amo-as. Procuro melhorar-me e a elas e não consigo conter-me, nem o faria se conseguisse. Dou sem nada pedir em troca, mas apercebo-me que há um pedido que não deixo de fazer a ninguém em especial (ou a todos, o Universo, Deus): peço que outros consigam fazer o mesmo.

É assim tão difícil conceber que alguém tenha um interesse tão profundamente desinteressado por tudo? Porra, raios vos partam! Deixem de me incluir em politiquices e afins! Custa assim tanto desempenhar algum trabalho físico? Intelectual? Emocional? Que tal um pouco de empenho? Um pouco de confiança, de sinceridade e honestidade. Um pouco de verdade? É assim tão difícil acreditar? Basta fechar os olhos e procurar essa fé profunda em algo ou alguém. Veriam, se quisessem, que não há razões para recear esse enorme Mundo, essa imensa realidade.

E se os outros não gostarem ou não compreenderem? Se recearem? E então? Deveria isso alguma vez ser um obstáculo? Deveria ser um incentivo! Acordem, há um Mundo inteiro à vossa espera que nada mais vos pede que o vosso dever. E devem-no, não duvidem por um segundo sequer, devem-no… Poder, querer, dever: eternamente ridícula essa tendência de separar definições que cumprem o mesmo propósito maior. E se houver dor? Tanto melhor, saberão que estão no caminho certo enquanto vivos.

Vivemos na ilusão há demasiado tempo, milhões de anos mesmo, que a dor é das mais importantes sensações que pudemos ter ao longo das nossas efémeras vidas.

Que tolo sou, amaldiçoado seja até ao fim desta vida e para lá dela. Que imensamente tolo. Se perdi a fé na humanidade, não culpo ninguém para além de mim. Se sou um humanista, não o devo a mais ninguém que a mim. Profundamente imperfeito, ainda mais que a maioria, fico satisfeito por poder procurar a perfeição com olhos que a veriam se nela tropeçassem. Viva a cegueira! Não é verdade? De que vos servem os olhos, se ao menor sinal de “perigo” espetam qualquer objecto afiado por eles a dentro? Espetam sempre demasiado fundo e lesam o cérebro. Que extraordinárias colecções de cicatrizes temos…

Questiono, de facto, a razão pela qual perco o meu tempo a escrever sobre coisas que quase ninguém quer saber. De entre os poucos que querem, poucos compreenderiam. E de todos os que compreendem, ninguém faz nada quanto a isso. Provem-me o contrário, força! Covardes. Perdi a fé na humanidade.

Mas, estúpido ou não, digo uma última coisa e atentem pois é verdade: se pelo meu sacrifício, pudesse trazer a mais pequena melhoria às vossas mentes, fá-lo-ia. Faço-o, aliás, tanto quanto as minhas forças o permitem. Mas se tivesse sequer o mais pequeno vislumbre de conseguir melhorar as coisas significativamente, o derradeiro sacrifício de corpo, mente e alma seria uma bênção e um alívio.

Se tiveram a pachorra para ler isto até ao fim, desejo-vos os parabéns. Demonstraram, com grande facilidade (vá lá, admitam, eu sei que foi fácil) quão incrivelmente hipócritas são, pois eu sei que estas palavras, embora certas, não são capazes de mover as pessoas. Nada mais faço que expor ideias. Se uma pessoa não deseja mudar, não muda. Ainda me dou ao trabalho de vos lançar um desafio: admitam-no. Ou nem capacidade têm para tal? E se acham que estou a ser injusto com alguns, digam-mo, não se fechem e permaneçam no silêncio.

Magoa-me ter que ser tão profundamente imperfeito para aproximar os outros de um caminho para a perfeição. Enfim, mesmo sendo uma troca injusta, fico satisfeito, pois se não me magoasse, ficaria demonstrado que não mais seria um humano que deseja ser Homem.

terça-feira, 29 de março de 2011

Erraram-me


Sem desejar irritar-me, irrito-me.
Onde é que está a originalidade e criatividade que me foi prometida?
Terei errado, certamente.
Encontro-me à deriva num mar de coisas, um mar de gente, um mar de nada.
Onde está a fantasia da minha infância?
Errei, sinto-o.
Onde estão as pessoas? Sonhei-as, quero vê-las!
Não paro de procurar, não posso… Continuo sem as encontrar!
Porque é que errei?
Fui fraco, fui pequeno.
Não criei o suficiente, talvez. Deixei de sonhar?
Erraram-me.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Essentia in anima

O que é que nos leva a ser como somos? Menos que humanos, meramente humanos. O que é que nos leva a ficar fechados em nós mesmos, inconscientes e ignorante de um Mundo à nossa volta? Não haja dúvidas, existe um Mundo lá fora que é tão infinitamente maior que a soma das nossas consciências, que deveríamos ter vergonha da nossa condição de meros indivíduos.

Egoístas, egocêntricos… Porquê?
Se houver algo para além da morte, porque é que havemos de manchar as nossas almas com a experiência de uma vida menos que plena?
E se nada houver para além “disto”, qual o real valor de uma vida tão cheia de “eu”? Quando terminar, perde-se tudo. Porquê essa reclusão essencial?

Seja qual for a nossa posição, não podemos deixar de reparar que, limitados pelo egoísmo e egocentrismo, tornamo-nos meros mortais. Digo “tornamo-nos”, pois em cada um de nós reside o potencial da imortalidade. Quando tocamos o próximo e procuramos melhorá-lo (e a nós), quando nos entregamos, ignorando a dor, e damos algo de nós incondicionalmente, estamos a partilhar da nossa essência.

Atentem no seguinte e compreendam que a nossa essência pode ser absoluta, mas tem a característica de poder crescer ou definhar. Se a guardarem apenas para vós, definhará. Se a entregarem livremente, crescerá. Não somos Homem. Muitos nem uma aproximação serão. Somos seres humanos, ilusoriamente racionais, mas um pouco mais que simples instinto.

Permanece em aberto uma questão: residirá o Mal no instinto, na consciência ou será algo exterior a nós? Aparentemente dotados de livre arbítrio e com uma mais ou menos bem definida esfera de liberdade, somos claramente responsáveis pelos nossos actos e pensamentos, logo, em princípio, o Mal ser-nos-á inerente. Resta averiguar qual a real medida de controlo de tal condição…

Cada indivíduo fará as escolhas que desejar e aí residirá a sua resposta.

A rolling thunder

It started out as a whisper
Whimpering, whispering
Witherwing whisper
Devoid of feeling
A void, yes
A void of meaning
I felt it
Even back then, I felt it

It carried out in a soft voice
Affirming, voicing
Objecting voice
A reason found
It hurt, yes
It hurt to face the treason
Threatened
Few moments passed, threatened

It came to completion with a shout
Growling, shouting
Thundering shout
“Here I make my stand!”
The wrong, yes
The wrong shall be righted
Enlightened
Until my dying breath, enlightened

Booming out in fire and lightning, the Truth is like
A rolling thunder

quinta-feira, 10 de março de 2011

Construções do "eu", um eterno questionar

Enquanto jovem, as decisões que tomei não foram as mais acertadas. Tão pouco diria que as decisões que hoje tomo o são ou não. Não são as mais antigas mais erradas, nem as mais recentes mais correctas. Cheguei a este ponto, vivo e procuro existir, logo embora tenha errado, não errei.

Construímos crenças, mais ou menos lógicas, que nos definem. Mais que as crenças que definimos, definem-nos estas, não há como fugir a tal revelação quando com ela somos confrontados. E se raramente as questionamos, à medida que as construímos e estas nos constroem, certamente compreenderão quão difícil seria questioná-las agora que estão bem assentes.

Quem seria capaz de questionar todos, absolutamente todos, os aspectos da sua vida?

Ser capaz de dizer:

Neste momento, sou um momento, nada mais existe. Analiso tudo o que sou, tudo o que “tenho”. Coloco tudo em questão…
Mantive alguma coerência ao longo dos anos? As minhas amizades e amores são verdadeiros? A forma como penso e ajo é a mais correcta? Aquilo que penso e faço faz qualquer sentido ou, pelo menos, tem qualquer valor? Quem sou eu agora? Sou aquilo que penso ser ou minto-me, assim como aos outros?

Mostro-me, verdadeiramente, como sou?

Basta! Coloco tudo em causa! Neste momento, está tudo em causa! Não destruo nada, tão pouco nada crio. Transformo, não me altero, pois sou quem sou, altero apenas a minha visão do “eu” e da realidade.

Basta. Chega, por agora.

Eu compreendo, é difícil, mas aconselho qualquer indivíduo a submeter-se a esta brutal e franca introspecção… Embora seja um processo longo e, muitas vezes, doloroso, é crucial. É necessário. É único na forma como o nosso livre arbítrio procura imiscuir-se de uma forma tão livre, tão claramente não-reprimida, que pode apenas resultar num entendimento e compreensão mais profundos do que são e da realidade em que se inserem.

Procurem aperfeiçoar o processo, como eu tenho tentado, e obterão tanto que os resultados escapam à compreensão de qualquer ser, inclusivamente o próprio.

Praticando diariamente este interminável e sistemático questionar de tudo, tornar-se-ão a torrente de mudança que inquieta os estagnados e o pilar que apoia os vacilantes. Custa, ao início, é incapacitante. Desce-se a recônditos da mente que não devem ser perturbados levianamente, mas é de uma necessidade tão maior para o Homem que para nós mesmos.