quarta-feira, 6 de abril de 2011

O potencial


Há em todos os seres (e focar-me-ei nos humanos, pois à espécie pertenço) um potencial que vai para além do expectável. Há um potencial para o bem e para o mal. Um potencial para o instinto e a razão. Um potencial para a prosperidade e a decadência... Não irei mais longe, serei conciso e conclusivo: há um potencial para algo mais.

De uma forma algo inconsciente, estamos sempre “conscientes” do potencial das coisas. O potencial dos pensamentos e das acções, o potencial de pessoas e de eventos. O potencial do desenvolvimento natural da realidade, assim como o potencial da influência do livre arbítrio na mesma. Digo mesmo que há um potencial para a responsabilidade, para o cumprimento de direitos e deveres, para a justiça e para a comunhão com o Universo, embora não tenha particular fé na nossa espécie.

Quando olham nos olhos de um amado ou amada, vêem um potencial de algo mais. Nunca vêem a pessoa como ela é, revestem-na de ilusões e representações daquilo que elas poderiam alcançar com o empenho certo, com o apoio certo e serei honesto quando digo que creio que todos temos o mesmo potencial. Creio, sinceramente, que todos temos a mesma capacidade para cismar sobre a vida, questionar os valores que regem as acções do dia-a-dia, lutar pelos nossos princípios, sacrificarmo-nos pelo que é correcto, pelo amor talvez... Não sei é se há em todos a mesma capacidade de aproveitamento desse potencial, isso entristece-me.

Somos mais que corpo e mente, mas não nos devemos focar apenas em considerações materialistas... No entanto, tão pouco podemos viver nas ilusões das nossas mentes, nesses truques que pregamos a nós mesmos constantemente. A realidade deve ser admitida como o é, como nos é apresentada e sobre ela nos devemos debruçar, para melhor compreendermos a razão de ser das coisas, a ordem natural das coisas... Existe potencial em todos, mas poucos os aproveitarão perto da plenitude, isso entristece-me.

Entristece-me também a forma como as pessoas se prendem a aspectos da sua vida que não deviam, a coisas que nem as prejudicam nem beneficiam, coisas que simplesmente são... Porquê? Onde é que se encontra a vontade de questionar tudo e que nos leva ao real conhecimento da realidade? Onde é que está a dúvida que nos devia atormentar a cada segundo das nossas vidas? Onde é que está o terror de se saber que se vive numa constante ilusão e que, provavelmente, dela não nos livraremos até ao momento das nossas mortes?

Eu vivo aterrorizado por estas considerações, pois para além da minha mente e do meu corpo serem fustigados pelos eventos da realidade, a minha alma é fustigada pela necessidade de se alcançar algo mais, de se tentar entender o propósito de tudo. De se conhecer o Universo, de se conhecer a realidade, de se conhecer Deus, de se conhecer tudo, pois todas estas coisas são “tudo”.

Certas ideias entram em conflito na minha mente, difíceis de se aplicar, tendecialmente mutuamente exclusivas, mas gosto de pensar que há a hipótese da resolução de um paradoxo, para além do que o intelecto humano permite. Tratarei de me explicitar: o membro gangrenoso deve ser decepado, para garantir a saúde do resto do corpo (e compreendam a aplicação de tal ideia a qualquer sistema), mas, por outro lado, não deve haver qualquer sacrifício de uma parte em prol do todo, pois os fins não justificam os meios, embora a sociedade o pregue constantemente (procurem no âmago dos vosses seres e descubram se concordam ou não, pois tal é muito relevante e demonstra a abordagem a uma vida ou a abordagem a uma existência).

Deveremos deixar um sistema definhar e morrer quando chegar o seu tempo ou sacrificaremos certos aspectos para que ele continue a desenvolver-se e prosperar? Uma posição estóica dir-nos-ia para aceitarmos a realidade em pleno e sermos sempre “parceiros” da causalidade, as coisas são como são, mas eu, tendencialmente estóico, sinto-me reticente quanto a este ponto em particular. Desconheço, pois não cabe a nenhum indivíduo saber, se uma posição que tende para a acção cooperativa não é uma espécie de inacção pela falta do exercício de livre arbítrio...

Por outro lado, o livre arbítrio não tem a consideração pelos direitos e deveres, assim como pela responsabilidade dos pensamentos e acções (pelo menos, não de uma forma mais que egoísta e egocêntrica), sendo que a liberdade, pela moralidade e o desenvolvimento e estudo desta pela Ética, dar-nos-ia uma visão diferente, na qual a acção com foco no controlo e na prosperidade seria sempre preferível. Mas cuidado, pois tal é baseado num paradigma do qual faz parte uma hierarquização dos valores e isso tem grande margem para má interpretação!

Concluindo, não há conclusões a tirar... Ok, estava a brincar, há umas poucas conclusões a tirar como: nem todo o potencial será aproveitado, nem todo o indivíduo será tratado justamente e tratará justamente os outros e, acima de tudo, cada um de nós, sempre que tender para acções tendencialmente egoístas e egocêntricas, trará à humanidade o seu próprio fim. E esse fim é o fim.

Não dou descanso à minha mente e procurarei incessantemente encontrar uma solução para estes dilemas e paradoxos. Tem que haver uma forma de fazer as coisas “funcionar” numa situação contínua de ganho/ganho e creio que o início desta reacção em cadeia passará pelo questionar das relações interpessoais, visto sermos seres sociais e o mais provável ser todos os problemas (quer objectivos, quer subjectivos, quer individuais, quer colectivos) terem origem neste ponto.

Há um caminho para o Homem e eu busco-o, sou o seu percurso como ele é meu e o meu trilho é o conhecimento. Prometo, de agora em diante, como antes o fiz e fui vero, que farei por aproveitar sempre o meu potencial ao máximo das capacidades humanas.

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