sexta-feira, 1 de abril de 2011

Interacções humanas

Há dias em que me custa estar perto de outras pessoas.

Não me entendam mal, eu valorizo a proximidade ao próximo, a possibilidade de melhor alcançar o “outro”, mas por vezes sinto-me demasiado triste e desapontado com a forma como interagimos uns com os outros. Para além de ver, constantemente, a forma como as pessoas se forçam umas às outras, sem consideração pelas liberdades umas das outras, inconscientes dos seus reais direitos e deveres, tão pouco noto qualquer tipo de tendência para a discussão construtiva de assuntos que serão certamente mais relevantes que o “disse que disse”, as mais recentes notícias desportivas e o habitual paleio ”entendido” de áreas que passam pela Medicina, a Advocacia, a Política, a Economia, entre outras.

Terrível hábito este dos portugueses (e sem dúvida que de muitos outros povos dos países ditos “desenvolvidos”) de falar sobre coisas das quais não se faz a mais pequena ideia, baseados em relatos de familiares, notícias que leram nos jornais ou viram no noticiário da noite, se é que têm qualquer espécie de base, por mais ilógica e irracional que seja, além do preconceito.

Peço perdão, desviei-me um pouco do assunto que pretendia abordar. Voltando às interacções humanas.

Independentemente da forma como chegamos à ocorrência dos primeiros eventos que criam os laços entre dois indivíduos, não há dúvida que as pessoas, revestidas de um egocentrismo que é alimentado ao longo da vida, têm sempre um interesse muito próprio e, frequentemente, escondido em avaliar os riscos e benefícios da relação em questão. Compreenda-se que estes riscos e benefícios são geralmente considerados de uma forma unilateral, como se a outra pessoa fosse um mero objecto, levando-me à formulação de “classificações” das relações.

Não dou importância a semelhantes classificações, mas para os efeitos da abordagem que pretendo fazer ao tema, referir-me-ei a relações “saudáveis” e relações “tóxicas”.

Continuando: não há relações saudáveis nem relações tóxicas. Pronto, não se chateiem, eu sei que a forma como me expresso pode criar antecipação, mas é importante sentir esta espécie de desapontamento, quiçá até irritação, pois ao menos estamos a sentir alguma coisa, certo?

Vamos lá a ver se conseguimos tirar alguma ideia jeitosa disto… Da mesma forma que não há coisas inerentemente boas ou inerentemente más, pois a sua utilização e intencionalidade, por trás de um pensamento ou acto, é que define o “bom” ou “mau”, certo ou errado, então não podemos considerar que haja pessoas boas ou más e que as relações com as boas sejam saudáveis e com as más sejam tóxicas. O ser humano que se encontra no outro lado da relação não pode nem deve ser rotulado, da mesma forma que não pode ser utilizado como uma “coisa”.

Há bons e maus momentos, essa é a verdade. Há quem tenha mais bons momentos que maus momentos (e vice-versa), mas ninguém tem apenas bons momentos, da mesma forma que ninguém tem apenas maus momentos. Em qualquer relação, devemos ter o cuidado de compreender que a situação deveria ser sempre de ganho/ganho e não de ganho/perda alternados. Maximizar os benefícios dos aspectos positivos e minimizar os danos dos aspectos negativos, eis uma forma de aproveitar SEMPRE o melhor que uma relação tem para oferecer!

Deve alguém ser julgado sem se considerar todo o percurso de uma vida? Como é que é possível fazer qualquer juízo de valor, minimamente lógico, racional, sem se conhecer e compreender tudo o que moldou a vida de uma pessoa? E se toda essa “toxicidade” for focalizada (em alguém) e essa pessoa for, geralmente, boa? Ou o contrário? Não vos incomoda estar sempre a rotular e ser rotulados? Não vos incomoda toda a experiência extraordinária que é desperdiçada pelas relações que se recusam a ter ou a aproveitar?

Sinto-me desapontado. Sentir-me-ei sempre, creio. Pois enquanto estou aqui feito parvo a lutar por algo melhor, a dar tudo aquilo que consigo, a partilhar todo o meu trabalho intelectual sem nada reclamar como meu, a dar todo o meu amor a uma humanidade que talvez nem o mereça, a melhorar-me diariamente para dar um exemplo que poucos se dignarão a reconhecer ou seguir, vejo um Mundo tão desinteressado por estas questões que, chegando ao fim do dia, choro por uma inocência perdida que nunca o foi, pois nunca existiu.

Há mais realidades para experimentar, mais experiências incríveis para viver. Como podem recusá-lo?

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