quinta-feira, 14 de abril de 2011

De Namar


Apresento-vos uma página-esboço de um livro que comecei a escrever há algum tempo. Ainda não está sequer perto daquilo que espero atingir, mas já dá para se ter uma vaga ideia do estilo de escrita, alguns nomes que criei, etc..
Podia escrever algo mais para contextualizar esta cena, mas não quero estragar a piada do aspecto final que o livro terá. Uma coisa vos prometo, se consideram que há poucos escritores portuguese de High Fantasy de qualidade, eis que pretendo juntar-me a essa pequena e elitista lista, sim? A minha história está a começar a surgir nuns moldes, aaah, tão belos, tão delicados, tão verdadeiros. Está a ser um prazer vê-la a desenrolar-se na minha mente e, lentamente, tomar forma física em papel (bem, papel virtual, já que estou a usar o Word, mas vocês percebem). Enfim, espero que gostem.

(Draija a dirigir-se a Bareth)
  - Coloco-me à tua frente, mas não me vês. Toco-te, mas não me sentes. Não sei se alguma vez o poderias ter feito, mas agora não conseguirás certamente, pois tens um compromisso para com todos nós.
  Uma única lágrima foi vertida, traçando-lhe um rasto luzidio no rosto. E essa lágrima incendiou em Bareth uma paixão que não se teria feito prever, pois antes que qualquer consideração pudesse ter sido tida em conta, já ambos haviam colidido selvaticamente.
  Enquanto as roupas eram descartadas, arrancadas dos corpos com uma sofreguidão animalesca, os lábios colavam-se e exploravam-se, separando-se apenas pelos momentos necessários para recobrar o fôlego, pois esta noite não se repetiria. Mãos procuravam, frenéticas, tocar o outro em formas que uma há muito não conhecia e o outro jamais conhecera; procuravam agarrar-se a algo mais que o corpo um do outro, a futuros que não poderiam acontecer, a tempo perdido e consolações para mágoas tão cruelmente despertas.
  E a chama tão cedo não se apagou, pois enquanto o conforto da luxúria dos corpos lhes permitiu, não permitiram que o ominoso futuro a aproximar-se se intrometesse. Dois corpos, sedentos de vida, e as roupas, pelo chão espalhadas, um estranho mosaico, mutável, belo.
  Mas todas as noites têm um fim, quer seja esse fim próximo ou não, e ambos caíram, eventualmente, exaustos, ainda nos braços um do outro. O cansaço e o sono tomaram então posse e ambos dormiram, enquanto Erion impedia a luz de Elin de incomodar quaisquer seres. A terra não era ainda banhada por uma subtil luz, o sol abaixo do horizonte, a noite calma estendendo-se efemeramente e um momento para sempre cristalizado no Tempo.

  O despertar surgiu a Bareth como algo  contraditório, cheio de felicidade por uma experiência que o acalentaria até ao fim dos seus dias e a terrível dor e pesar da impossibilidade de permanecer, alheio aos problemas de Namar, ou, pelo menos, prolongar a sua estadia por uns dias. Apenas mais uns dias, por um pouco de descanso, a possibilidade de viver um amor que não se havia até então permitido… Não poderia ser.
  Uma única lágrima foi vertida, enquanto se vestiu e preparou, tendo o cuidado de não despertar Draija, rezando a Rajh por um caminho claro à sua frente e a Sheter pela protecção da sua alma, pois a jornada seria árdua e perigosa. Uma única lágrima vertida, pela perda de uma inocência que nunca havia sido.
  Ao aproximar-se da orla da povoação, as sentinelas não o impediram nem o questionaram, como até há pouco tempo teriam feito. Olharam-no apenas com o que parecia ser um ar calmo de quem vê alguém a ir de encontro ao seu destino, os seus semblantes sérios e respeitosos, uma despedida silenciosa. Mais não seria necessário ou próprio. Partiu então Bareth, em direcção às planícies do sopé da montanha, com Ark’Namar como destino.

Na privacidade da sua tenda, finalmente só, chorou Draija a partida de quem não esperara desejar e amar tanto, mas foram principalmente lágrimas de felicidade, pelo futuro que Bareth poderia comprar a Namar.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Podem comentar à vontade, peço apenas que mantenham o respeito pelos utilizadores deste blog. A boa educação é uma coisa maravilhosa!