quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Xenofobia manifestada pelo racismo

Hoje tratarei de abordar um tema razoavelmente comum, mas que não deixa de ser relevante, que é uma sub-classe, chamemos-lhe assim, da xenofobia: o racismo.

O racismo é uma corrente de modo de pensar em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras e onde existe a convicção de que alguns indivíduos, e a relação dos mesmos com determinadas características físicas hereditárias ou manifestações culturais, são superiores a outros.

O racismo não é uma teoria científica, mas um conjunto de opiniões preconceituosas que valorizam as diferenças biológicas entre os seres humanos, em que alguns acreditam ser superiores aos outros, de acordo com a própria matriz racial. A crença da existência de raças superiores e inferiores foi utilizada muitas vezes para justificar a escravidão, genocídios e, ainda nos nossos dias, tal se verifica, embora esforços, a nível mundial, tenham reduzido a maioria dos casos a uma “simples” discriminação que ocorre, geralmente, a um nível social. Mas, não será este o foco da minha abordagem.

Pretendo explicitar quão incorrecta e inexacta é esta vertente de pensamento, devido à falta dos mais variados dados que evidenciem que tais características “raciais” são biológicas. Estas diferenças raciais são, maioritariamente, culturais, logo, qualquer indivíduo introduzido desde jovem numa cultura alheia, desenvolver-se-ia de semelhante forma, independentemente de algo tão insignificante como a cor da pele e outras características físicas. Este é, sem sombra de dúvidas, o ponto mais simples de tudo quanto possa escrever sobre o assunto e é, também, o mais difícil de ser aceite. Farei os possíveis por desenvolver o tema, de forma a ser facilmente compreensível.

Dar-vos-ei algo para se basearem e usarem como termo de comparação: o cão.
Imaginem um cão.
Peço perdão, fui muito vago? Ah, claro, tenho que especificar a “raça”... Estranho, tantas diferentes raças de cães.. Um Doberman não é, certamente, confundível com um Chihuaha, um São Bernardo, um Pastor Alemão, um Pitbull, entre outros (já têm uma boa ideia daquilo a que quero chegar)... Parecem ser cães com comportamentos, características físicas e intelectuais tão diferentes, terão então uma grande variabilidade genómica...

Errado! Infelizmente, não me consigo lembrar onde obtive os dados, mas o valor de variação genómica entre duas raças caninas seria na ordem dos 6%... Isto significa 94% de semelhança. Aos nossos olhos, não nos aperceberíamos de tal nível de semelhança, encontramo-nos demasiado toldados por características irrelevantes como o tamanho e a cor, incapazes de compreender que a grande diferenciação de características ocorre num plano cultural (ensino, formação, etc.). Há também que ter em conta que muitos estudos genómicos apontam valores díspares, visto não haver um consenso quanto a que aspectos serão mais relevantes que outros, nem sei se poderemos dizer que devesse haver alguma diferenciação. Continuamos a tender para a compartimentação e uma visão não-holística da realidade.

Isto foi um mero exemplo para demonstrar como, se nos basearmos apenas no que vemos, ficamos muito aquém da realidade. Já nem sinto que faça sentido referir-me a "raças" de cães, após leitura de semelhantes estudos...

Voltando a pegar no ser humano, a variação será na ordem de 1% (estudos genéticos recentes apontaram um valor de 10%, mas são altamente contestados, pois focam-se nas variações que podem ocorrer dentro de um mesmo gene, em vez da globalidade do genoma humano), sendo que um facto extraordinariamente engraçado é que temos maior probabilidade de, a nível genético, sermos mais semelhantes a membros de outros “grupos étnicos/raciais” que ao próprio.

Apercebem-se agora de quão ridícula é esta diferenciação racial? Quão ridículo é o racismo? Não há bases que sustentem a existência destes modos de pensar preconceituosos, isto não passa de um enorme caso de xenofobia, o medo do diferente, do "estrangeiro", do "alienígena". Sendo que esta "diferença", realmente, nem pode ser considerada tal!

As únicas “verdadeiras” diferenças são as culturais, apercebam-se disso. E todas as culturas tenderão, eventualmente, para a unificação e, no momento em que qualquer distinção se torne impossível, não mais fará sentido expressar qualquer tipo de classificação do ser humano para além de “ser humano”.

Volto a focar: a nível biológico somos todos extraordinariamente semelhantes, a “maior” diferença identificável é a cor, o que é absolutamente irrelevante (por exemplo, em que é que um carro muda se for branco ou preto? Como antes disse, é irrelevante). As “reais” diferenças são culturais e qualquer indivíduo introduzido noutra cultura irá desenvolver-se e agir de forma semelhante, independentemente da “raça”.

Biologicamente, a evolução pode estender-se ao longo de milhões de anos, sem se encontrar diferenciação relevante. Culturalmente, a evolução pode ocorrer em períodos tão curtos como meses ou anos, sentindo-se impactos extraordinários...

Esta constante tentativa de desumanização do Homem pelo próprio é triste... Muito triste, mesmo. Amaldiçoada moralidade e sociedade, parecemos afastar-nos cada vez mais da Ética.

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