sábado, 9 de junho de 2012

O velho

Ia um velho a caminhar pela rua
Olhar vazio, aura de tristeza
As costas curvadas por um fardo que apenas ele via e sentia
De andar arrastado e coxo
Figura triste e cansada
Como se não lhe sobrasse nada

"Diz-me, homem velho
Porquê esse ar de sofrimento?
Vivemos num Mundo belo
Quão terrível pode ser o teu tormento?"

O velho olhou para mim
Para lá de mim, através de mim
E disse-me da sua fortuna, do seu destino, da sua sina
Falou de oportunidades perdidas
Trabalhos inacabados, vida desperdiçada
Como se não lhe sobrasse nada

"Homem velho, não lutaste por essas coisas
Como pode tal ser?
Louco eras ou foste talvez
Foi um sonho que se desfez?"

E o velho voltou a falar-me
E a sua voz era a da morte
Da perda de todas as coisas, de quem não faz a sua sorte
Como se não me encontrasse lá
A mim se dirigiu então
Tocou-me no rosto, segurou-me a mão

"Jovem, não me vês pelo que sou
Não sou um homem
Vivo o que nenhum Deus me deu
Um futuro que será teu."

Fugi aos tropeções
Caí e esfolei-me
E olhei para trás para ver que o velho já não era, nunca foi
Mas eu poderia um dia vê-lo, sê-lo
E frente a um espelho me quedei
"Esse velho não serei."

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