domingo, 6 de fevereiro de 2011

A Matemática e o Complexo de Deus


Uma mera brincadeira com o Homem, a Matemática e Deus, não é para ser levada a sério, a não ser que assim o desejem (faz-me sentido, mas suponho que não o faça para a maioria).

No reino da Matemática, faz-se uma distinção engraçada entre aquilo que é identidade (ou congruência), igualdade e aproximação a igualdade. É lógico e simples de explicar:

4 é idêntico a 4;
7-3 é igual a 4;
3.999... é aproximadamente igual a 4.

Para a identidade utiliza-se o símbolo “”, para a igualdade temos “=” e para a aproximação a igualdade usamos “≈” (também se pode usar um “=” com mais um “~” por cima, mas tal é irrelevante :P). Enfim, achei que podia ter alguma piada pegar nestas ideias, vê-las duma perspectiva diferente da que a matemática usa, pensar um pouco na significação por trás de cada definição.

Quando penso na forma como é afirmado que 4 é idêntico a 4, não posso deixar de estranhar... Idêntico? Como é que alguma coisa pode ser idêntica a outra? Que alguma coisa seja igual a outra, é fácil de entender, mas idêntica? A identidade é algo único, não pode ser reproduzida.

Quando olhamos para “44”, porque não poderíamos dizer que o o segundo é uma mera representação do primeiro ou vice-versa? Iria mais longe, ambos são meras representações de um “4” imaterial, impossível de reproduzir, algo que reside apenas num plano ideal. Se o primeiro fosse idêntico ao segundo, então eram apenas um “4”, a ideia de um primeiro ou segundo “4” tornando-se algo ridícula. Não podem negar que vêm dois “4”, pois certamente verão, logo estes não podem ser idênticos, mas meramente iguais, não? Talvez, oh well...

E ainda uma triste consideração, vejam o pobre “3.999...” a aproximar-se do “4”:
3.999999... aproxima-se...
3.999999999... aproxima-se...
3.999999999999... aproxima-seeeeee...
3.999999999999999... ainda não chegou, desisto :(
Quantos mais algarismos, “mais” aproximadamente igual. Não há dúvidas de que “tende para” ou “à”, mas nunca alcança...
“3.999”, lamento, não és nem nunca serás um “4”.

Enfim, uma mera brincadeira que me deixou a pensar em complexos. Carl Gustav Jung foi um indivíduo deveras inteligente que veio fazer um contributo considerável para a Psicologia com o seu conceito de “complexo”. Esse conceito compreende vários grupos de conteúdo psíquico que se “separam” da mente consciente e passam a agir de uma forma mais ou menos notória na conduta de um indivíduo, mantendo uma existência relativamente autónoma no subconsciente. Certamente já terão ouvido falar no Complexo de Inferioridade, de Édipo, de Messias? É bem provável que tenham.

Não abordarei estes complexos, pois são muito... Hmmm, individuais. Quando pensei em complexos, ocorreu-me aquele que atinge o Homem com um impacto extraordinário: o Complexo de Deus. Há um Complexo de Deus em todos os indivíduos, é impossível negá-lo. Qualquer um de nós acredita  que tem o poder de criar ou destruir (uns poucos, muito poucos, muitíssimo poucos sabem que assim não é), embora realmente tal esteja completamente fora do nosso alcance. Nunca mais fazemos que mudar as coisas, e já Antoine Lavoisier afirmava que “na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

Mas, também não vou falar daquilo que poderia ser este “distúrbio” que aflige o Homem. Dei por mim a pensar: porque não? Porque não ser Deus?

Ah, mas aí é que está a questão! O Homem não quer ser Deus, quer ser igual a Deus e isso é um pouco diferente. Quer acredite ou não numa qualquer entidade superior, qualquer indivíduo almeja, ansia por toda aquela totalidade, aquele absoluto e infinito que seria a existência divina, embora tenha sempre em conta que, se existir, tal “posto” já se encontra ocupado. Logo, pensamos: ser Deus, não, pois tal é impossível, mas igual a Deus, sim.

E eu repito: porque não?

Pois, porque não? Porque não mesmo... Temos aqui um pequeno problema. O Homem não pode ser igual a Deus e a razão é simples: quando caminhamos para um estado, aproximamo-nos a esse estado. Temos a ilusão que alcançamos um estado diferente, mas nada mais fazemos que aproximar-nos infimamente. A modo de como faríamos ao considerar a velocidade da luz, sabemos que esta existe, não encontrámos ainda nenhum entrave teórico à utilização da velocidade da luz e, no entanto, a aceleração até à velocidade da luz é impossível, pois necessitaria de uma quantidade infinita de energia! Mas a luz existe, a velocidade da luz existe... Talvez até algo para lá disso.

Não, de facto o Homem não pode ser igual a Deus, pois em tal tentativa nada mais seria que isso mesmo, uma tentativa. Seria uma eterna aproximação a igualdade, o Homem que é perto, infimamente perto de Deus, mas não é igual a Deus. E o Homem não se contenta com a mera aproximação, logo nada ocorre. Que complexo tão estagnado... Ou talvez não.

Deixo então uma questão, à laia de despedida: porque não ser Deus?

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