Enquanto jovem, as decisões que tomei não foram as mais acertadas. Tão pouco diria que as decisões que hoje tomo o são ou não. Não são as mais antigas mais erradas, nem as mais recentes mais correctas. Cheguei a este ponto, vivo e procuro existir, logo embora tenha errado, não errei.
Construímos crenças, mais ou menos lógicas, que nos definem. Mais que as crenças que definimos, definem-nos estas, não há como fugir a tal revelação quando com ela somos confrontados. E se raramente as questionamos, à medida que as construímos e estas nos constroem, certamente compreenderão quão difícil seria questioná-las agora que estão bem assentes.
Quem seria capaz de questionar todos, absolutamente todos, os aspectos da sua vida?
Ser capaz de dizer:
Neste momento, sou um momento, nada mais existe. Analiso tudo o que sou, tudo o que “tenho”. Coloco tudo em questão…
Mantive alguma coerência ao longo dos anos? As minhas amizades e amores são verdadeiros? A forma como penso e ajo é a mais correcta? Aquilo que penso e faço faz qualquer sentido ou, pelo menos, tem qualquer valor? Quem sou eu agora? Sou aquilo que penso ser ou minto-me, assim como aos outros?
Mostro-me, verdadeiramente, como sou?
Basta! Coloco tudo em causa! Neste momento, está tudo em causa! Não destruo nada, tão pouco nada crio. Transformo, não me altero, pois sou quem sou, altero apenas a minha visão do “eu” e da realidade.
Basta. Chega, por agora.
Eu compreendo, é difícil, mas aconselho qualquer indivíduo a submeter-se a esta brutal e franca introspecção… Embora seja um processo longo e, muitas vezes, doloroso, é crucial. É necessário. É único na forma como o nosso livre arbítrio procura imiscuir-se de uma forma tão livre, tão claramente não-reprimida, que pode apenas resultar num entendimento e compreensão mais profundos do que são e da realidade em que se inserem.
Procurem aperfeiçoar o processo, como eu tenho tentado, e obterão tanto que os resultados escapam à compreensão de qualquer ser, inclusivamente o próprio.
Praticando diariamente este interminável e sistemático questionar de tudo, tornar-se-ão a torrente de mudança que inquieta os estagnados e o pilar que apoia os vacilantes. Custa, ao início, é incapacitante. Desce-se a recônditos da mente que não devem ser perturbados levianamente, mas é de uma necessidade tão maior para o Homem que para nós mesmos.